NO INFERNO


«[...] imaginei uma personagem enclausurada, anónima, ou quase anónima, e sem memória. Dei-lhe um enigma a deslindar - o da própria identidade - e um razoável acervo de livros pelos quais ele, despojado do resto, se reconheceu como possuidor de muitas leituras. [...] No que respeita ao autor - eu, neste caso -, consciente ou inconscientemente, pus-me a par da minha personagem, isto é, fui ficcionando aos saltos, marimbando na lógica e no encadeamento natural dos acontecimentos, umas vezes com base em ocorrências de natureza autobiográfica e outras vezes a partir de ideias e motivos tomados de empréstimo a uma vasta literatura pretérita. [...]» (A. V., in «Nota Prévia».)
Robinson - convencionalmente o nome da personagem - é de facto uma multiplicidade de personagens cujos nomes mudam ao sabor do escritor que Arménio Vieira «evoca». Robinson deambula pela literatura. Mas... que deambulação? Que literatura? Que ficção? Em que ilha se tornou náufrago? Terá cada extrapolação um significado, um simbolismo? Será que Robinson personagem-autor não nos mostra o reverso do mundo dito dos livros e nos conduz à não-literatura, ao não romance e ao desnudar das convenções literárias?

Autor: Arménio Vieira

Editor: Editorial Caminho

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