DOZE POR DEZ


A poesia que ora se apresenta é um processo. Os textos imbrincados uns nos outros constroem um feixe de apresentações e de sentidos que não escaparão a um leitor atento. Mais do que o sentido do real, mais do que o social, poderá ser o prazer nascido do espanto.
O vulgar, o ordinário, na construção do espanto e consequentemente da dimensão reflexiva destes textos poderá implicar duas atitudes do leitor, atitudes essasexclusivas: ou este se espanta, e procura a causa do seu espanto, ou se espanta e rejeita pura e simplesmente o texto, com o argumento de que não é poesia, não é literatura, não é nada.
Se optar pela primeira atitude econtrará no final o prazer em descobrir que a linguagem ordinária poderá servir de suporte, de reforço, às situações quotidianas, com a vantagem de se encontrar já na área de subversão, isto é, da mutação da própria linguagem e dos próprios sentidos.
É o caso muito específico do poema Só de ouvir.... Nele o pregão já não é pregão. É constatação da precaridade da vida, é denúncia.
Ou ainda a linguagem amorosa, codificada e tão “ridícula” como diria Fernando Pessoa. Ela já não é linguagem amorosa mas apenas código necessário à expressão da ideia de que o real se encontra investido da vulgaridade, mesmo no que toca à afectividade.
Acreditamos que no final é o normal e o natural que são postos em causa, numa linguagem em que “doxa” é constantemente transformada em algo mais.
Isabel Lobo

CARLOS M. M. ARAÚJO nasceu a 30 de Março de 1950 no Paúl, Santo Antão, Cabo Verde e é licenciado em Engenharia Electrotécnica pelo IST de Lisboa. Várias formações em áreas técnicas e gestão levam-no a conhecer vários países, várias nuances políticas, várias culturas, várias formas de estar; proporcionou-lhe um conhecimento das novas tecnologias bem como das modernas formas de gestão. Tudo isto, junto a uma participação activa no mundo da política e a necessidade sentida de uma reforma social, está sem dúvida na base da sua escrita que deverá mostrar um quadro de conteúdo útil e pintado com arte e beleza.

Autor: Carlos Araújo

Editor: Edições Calabedotche – S. Vicente
Ano de edição: 1998

(fonte: BM Oeiras - Algés)

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