NA RIBEIRA DE DEUS


Este romance conclui um ciclo romanesco de rara beleza, a trilogia de sobrados, lojas e funcos de que também fazem parte Ilhéu de Contenda e Xaguate.
A linguagem contida e transparente transporta de imediato o leitor para o ambiente físico e humano onde decorre a história.
Com este romance confirma-se, em Teixeira de Sousa, a existência de um estilo extremamente sóbrio na recriação artística do seu mundo ilhéu, tão pequenino mas tão continente de grandes sonhos seus.

No início do livro, uma lenda africana... a lembrar talvez a aleatoriedade da condição humana, tal e qual como o caudal de água numa ribeira:

GÉNESIS
Quando Deus fez as criaturas, mandou-as a uma ribeira para se lavarem . As que chegaram primeiro, lavaram-se em água límpida e ficaram brancas. As que chegaram a seguir, lavaram-se em água turva e ficaram mulatas. As que chegaram no fim, encontraram a ribeira a secar, apenas puderam molhar as palmas das mãos e a planta dos pés, e ficaram negras no resto do corpo.
E ao branco, Deus deu uma caneta. Ao mulato, deu uma balança. Ao negro, deu uma enxada.

Autor: Teixeira de Sousa

Edição: Publicações Europa-América
Colecção: Século XX
Ano de edição: 1992

(fonte: Ernestina Santos)

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