CÂNTICO DA MANHÃ FUTURA


BALTASAR LOPES da Silva (de seu nome poético OSVALDO ALCÂNTARA) que nasceu na ilha de S. Nicolau, a 23 de Abril de 1907, marca uma época na vida social e cultural cabo-verdiana. Partindo adolescente para Portugal, onde completou os estudos liceais, voltaria para Cabo Verde no início da década de 30, licenciado em Direito e Filologia Românica. Regressaria ainda a Lisboa, por mais dois anos, a fim de frequentar o estágio de ensino liceal cujo exame de estado concluiria com invulgar brilho e celebrada fama.
Professor do Liceu de S. Vicente, onde durante cerca de cinquenta anos exerceu o magistério, deixou a marca indelébel do seu saber e da sua personalidade em gerações e gerações de estudantes que unanimemente o elegem como o símbolo vivo da sua escola. A par do professorado, exerceu uma intensa advocacia, esta, como há bem pouco reconheceu, “mais solicitada pela necessidade de ser útil a uma larga percentagem desprotegida da população do que por intuitos profissionais que nunca verdadeiramente (o) impulsionaram”.
Filólogo distintíssimo, dedicou ao estudo da língua cabo-verdiana a profundidade dos seus conhecimentos e ergueu-lhe um monumento de investigação científica que é a monografia O Dialecto Crioulo de Cabo Verde.
Um dos fundadores, na década de 30, da revista de artes e letras Claridade, seria o seu principal animador no decorrer dos naos e distinguir-se-ia pela sua obra de ficcionista cujo ponto alto é o romance Chiquinho que, no dizer do prof. Jean-Michel Massa “reste encore la plus grande oeuvre romanesque de la literatura de cette jeune nation. C’est une sorte d’évidence rarement mise en doute”. O conjunto dos seus contos tem publicação anunciada para breve em colectânea intitulada Os Trabalhos e os Dias.
A obra poética de Baltasar Lopes, assinada desde sempre pelo nome literário de Osvaldo Alcântara, só agora se reúne em livro e comprova as lúcidas palavras que lhe dedicou Jaime de Figueiredo: “Uma atenta vigilância na captação de virtualidades emotivas pressentidas, do mesmo modo que a recuperação rememorativa de vivências, se conjugam na elaboração dessa poesia que ao cabo se cristaliza num estilo pessoal enriquecido pelo vasto conhecimento dos recursos vocabulares e o uso de uma imagística fortemente reveladora e elucidativa. Entre as solicitações de um espírito culturalmente exigente e a desperta disponibilidade às provocações circundantes, Osvaldo Alcântara nos mais conseguidos poemas dá-nos a vibração tensa de uma atitude integral ante o drama de todos os dias, numa forma expressiva de frequente tom augural, em que do fundo agnóstico ascende um grave ressonância humana”.

Autor: Osvaldo Alcântara

Editor: Banco de Cabo Verde
Ano de edição: 1986

(fonte: BMOeiras - Algés)

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