POEMAS


Na introdução ao seu livro, que intitula de "À guisa de prefácio (ou talvez advertência)", Arménio Vieira refere com humildade: "Após aquilo que foi mesmo uma luta ingente e longa com o Demónio, acabei por soçobrar à tentação. E assim um conjunto de poemas que eu teria normalmente preferido reservar ao limbo (mais ou menos discreto) de algumas revistas e jornais se faz agora público, sob a forma de livro."
Tendo optado pela divisão do livro em séries datadas, Arménio Vieira completa a introdução ao seu livro com a seguinte "Arte Poética":

INTRODUZ MÉTRICA NOS TEOREMAS,
FAZ DA GEOMETRIA UM LIVRO DE POEMAS.
E POR FIM - COM A TINTA VERMELHA DO PULSO -
INSCREVE NA ABERTURA DO TEU CANTO:
"É PELA METAFORIZAÇÃO DO DISCURSO
QUE SE SALVA O PENSAMENTO"

Poeta de vento sem tempo, na admiravelmente bela definição de Jorge Carlos Fonseca, ARMÉNIO VIEIRA nasceu na cidade da Praia. Ainda muito jovem viria fazer os seus estudos liceais na cidade do Mindelo, tendo sido membro do grupo de alunos do Liceu Gil Eanes que acabaria criando a página literária Sèlóo, suplemento do Notícias de Cabo Verde, e que se pretendia com o ideário confesso de manter viva a chama claridosa, continuando a denunciar a má vivência e os ciclicos problemas do homem caboverdiano.
Ainda que seja verdade que Sèlóo não chegou a ultrapassar o 2º número, é porém certo que a sua breve passagem deixaria marcas profundas nessa geração que teve a seu cargo cantar os sonhos de liberdade na independência.
E é nesse contexto de compromisso que surge Arménio Vieira, "irreverente e indomável espadachim da morte", ainda no dizer de Carlos Fonseca. Não se detendo na sua necessidade de permanentemente alargar as fronteiras do permitido, espalha vasta, boa, provocante e satírica colaboração por revistas que vão desde Vértice a Raízes, passando por Mákua, Alerta e muitas outras. Mas essa disponibilidade para a vida tinha preço e Arménio Vieira pagou-o na década de 60 com dois anos na prisão, às ordens da PIDE, a polícia política encarregada de espalhar o terror durante o fascismo colonial. Porém e ao contrário de muitos dos seus colegas que acabaram se assumindo como heróis ou como vítimas, esse escritor jocoso, e por isso mesmo irreverente e inconformista, continua a ver-se a si próprio apenas como um homem perdido no mundo, talvez um homem demasiado humano.
Arménio Vieira publica o seu primeiro livro em 1981 (o que ora apresentamos, acrescentado de uma selecção feita pelo autor de poemas escritos entre 80 e 97), e estreia-se na ficção em 1990 com o Eleito do Sol, livro tido como uma lufada de ar fresco no soturno pensamento estético-literário caboverdiano, pela sua originalidade formal e temática.

Autor: Arménio Vieira

Editor: África Editora / Colecção Poesia
Ano de edição: 1981
Patrocínio: XII Feira do Livro Português

(fonte: Ernestina Santos)

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