HORA DI BAI


Prémio Ricardo Malheiros

Uma presença geográfica, física – Cabo Verde; uma presença humana, telúrica – os homens que o habitam. E, principal personagem do romance, insinuando-se como água na areia, tão presente e profunda como o mar que separa e une as ilhas do arquipélago – a Fome.
Não uma entidade metafísica, literária, mas qualquer coisa de muito concreto que rói os ossos, esventra o entendimento das coisas, transforma em esqueletos vivos as pessoas e os sonhos – que, depois a carroça da Câmara arrasta, indiferente, para a vala comum, como numa estampa medieval. As intrigas; os passes políticos; os amores permitidos ou clandestinos; os pequenos dramas do quotidiano vividos por uma população relativamente enraizada ou flutuante, formam uma ilha onde há fartura de tudo (até de “whiskey”). Em outras ilhas minúsculas que o sol queima, e queima, as crianças morrem nos ventres das mães, os pássaros arrancam os olhos aos moribundos, no oceano, pacientes, os tubarões aguardam – e a revolta cresce – enquanto ao longe se ouve uma morna entoada por um emigrante que – ontem como hoje – conseguiu fugir, e foge, levando a ilha na viola e na voz, ao mesmo tempo, no estômago vazio (por isso foge) e no coração cheio (por isso quer ficar).

Hora di Bai foi publicado em França com o título “Le pain de l’exode”, tradução de Gilles e Maryvonne Lapouge, edição Castermann. Incluído na lista de “Os livros da Semana” do “Fígaro Literaire”, o romance de Manuel Ferreira foi saudado pela crítica francesa como um modelo do romance neo-realista capaz de levantar os mais graves problemas do homem em sociedade.

MANUEL FERREIRA nasceu em Gândara dos Olivais – Leiria em 1917. Concluiu o curso de Farmácia e o curso de Ciências Sociais e Política Ultramarina, tendo frequentado ainda a Faculdade de Letras de Lisboa.
De 1941 a 1947 destacado como expedicionário em Cabo Verde, ali casa e lhe nasce o filho mais velho. Nestes seis anos convive com o grupo da revista Claridade e exerce decisiva influência no aparecimento do grupo Certeza.
Entretanto permanece seis anos na Índia e dois anos em Angola. Colaboração dispersa pela Revista Vértice, Seara Nova, “Cultura e Arte” d’O Comércio do Porto, Página Literária do Diário de Lisboa, Revista de Portugal, Ocidente, Estudos Ultramarinos, Colóquio/Letras, Província de Angola, e outros. Foram-lhe atribuídos os prémios Fernando Mendes Pinto para Morabeza, Ricardo Malheiros para Hora di Bai, Imprensa Cultural para A aventura crioula.
Esta longa experiência ultramarina vai ser decisiva na sua carreira de esvritor e explicar a predominância da motivação africana na sua actividade literário, traduzida não só na ficção como no ensino, na literatura infantil, e em artigos, colóquios, etc.

Autor: Manuel Ferreira
Capa: Criner y Dintel

Editor: Plátano Editora
Ano de edição: 1972

(fonte: BMLx - Camões)

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