“Dizem, mas não se confirma, que do outro lado da noite copos de cristal estalaram com um brinde.
Dizem também que na sala iluminada há muito se carpia pela morte e depois a saudade entrou funda na terra grávida. Só então Nando penetrou a noite romântica, onde só há luz e nada.
Dizem... dizem muitas coisas, mas eu, Francisco do meu nome e um dos personagens do livro que tendes na mão, não posso confirmar nada e antes pelo contrário até prefiro desmentir pois é do meu conhecimento que normalmente quem afirma são os inventores de verdades que se encontram no dealbar da selvajaria.
Hoje, amigos, completamente desiludido com a política e com os homens, mas não com a vida, resta-me ainda uma pergunta e uma esperança: que será do mundo se um dia a cultura, a arte a o respeito pela vida passarem a ser as principais preocupações da mente humana?
...
Lembrar-se-ão de perguntar pelo estado do meu próprio cálice?
Não se terá ele quebrado naquela noite?
Desejo-vos uma boa leitura na companhia de todos nós.
P.S. Quem sabe, não falarei com o Nando ainda hoje?”
Este extracto do prólogo indicia o mistério e a densidade emocional com que o autor conduz o leitor ao longo do romance, mantendo intacto o seu interesse pelo desenrolar da história até à última página. Se referirmos ainda o “Poema do Absoluto” (“O relógio não deu horas / Nos sinos de São Salvador / Porque não há horas / Nem sinos de São Salvador”) extraído do magistral romance “A Casa do Pó”, de Fernando Campos, inscrito no primeiro capítulo do livro, cuja numeração, aparentemente aleatória, parece chamar-nos a atenção para a cronologia dos factos, não nos admiramos à partida que o romance tenha conquistado o Grande Prémio Sonangol de Literatura (Consagrados) em 1999.
Autor: Carlos Araújo
Fotocomposição, impressão e acabamento: Ponto Um, Indústria Gráfica (Luanda)
Ano de edição: 2000
Patrocínio: Sonangol Holding
(fonte: Ernestina Santos)
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