A vida quando transposta para a poesia de Carlota de Barros não é apenas desgraça que se assume com imensa dor e uma infinita capacidade de a chorar. Não, a vida em muitos poemas da autora, é felicidade. É expressada na alegria de viver. É um desfrutar o outro numa imensa e deslumbrada conjugação, é utopia, é esperança e é sobretudo, comunhão. E a autora faz da vida um hino na sua poesia. Exalta os afectos da família, aliás sobre este ponto, Vera Duarte que lhe faz o prefácio deste livro, muito bem notou e ressaltou uma conseguida e feliz descrição, o que este precioso valor, a família, representa na simbologia poética de Carlota de Barros. E a propósito, o delicioso quadro da família à mesa, no movimentado poema:
Regresso a casa
"Todos os dias
regresso à casa
pai
tu e nós
alegremente
à volta da mesa
passa-me a travessa
Carlos
agora é a minha vez
há mais gente
para comer
Hernâni
passa-me o arroz”
Claro que o lado solidário do poeta faz-se também presente. Ele é-nos revelado na partilha, através da palavra poética, do imenso sofrimento que a enormidade das guerras fratricidas, trazem aos meninos de Luandae aos de Timor... Por outro lado, as ilhas são uma constante presença emquase todo este trabalho poético. De, e sob várias formas. Na saudade magoada revelada e que acompanha a autora no seu deambular cosmopolita, por outras terras que vai conhecendo e amando também, mas onde ela procura vestígios, traços, sinais, pequenas e por vezes subtis comparações, com a terra de origem. Mas também os cheiros, as cores, maresia olorosa, o azul, que preenchem a poesia de Carlota de Barros numa sinestesia projectada em fortíssima e belíssima imagética que completam harmoniosamente os quadros poéticos de "A Minha Alma Corre em Silêncio"
Ondina Ferreira
Autora: Carlota de Barros
Autora: Carlota de Barros
Editor: autora
Ano de edição: 2003
Sem comentários:
Enviar um comentário