O CRIOULO DA ILHA DE S. NICOLAU DE CABO VERDE


O estudo e valorização da língua cabo-verdiana são hoje (deveriam ter sido sempre) um dever e uma obrigação de todos os filhos desta terra, de todos quantos se identificam com a crioulidade ou se interessam pelos valores da cabo-verdianidade.
Com efeito, em cabo verde, se há algo que melhor exprime a essência e os contornos da crioulidade, que é marca e suporte insubstituível da identidade do nosso povo, que de uma forma abrangente fundamentada consolida os ideais da nacionalidade é o crioulo.
A língua cabo-verdiana moldou e molda de tal maneira a nossa vivência cosmovisão que, se, de repente, ela deixa-se de existir, a nossa sociedade, na sua grande maioria, ficaria transformada num caos; a nossa identidade ficaria, assim, comprometida e a unidade nacional, forçosamente, seria quebrada.
Estudar e valorizar a nossa língua de berço, o veículo principal da nossa cultura, não e apenas um acto cultural, é também um dever de todo o cidadão. Daí que todos os políticos, os homens de cultura e técnicos de língua devem trabalhar de mãos dadas para que a unidade nacional seja reforçada e o legado principal da nossa cabo-verdianidade continue um património.
Eduardo Cardoso, com o seu trabalho sobre a variante de São Nicolau, que se acaba de dar a lume, vem demonstrar-nos que o caminho que temos a percorrer, no âmbito do desenvolvimento linguístico, é ainda muito longo.
Entretanto, o facto de sabermos que esse caminho existe (e ele o demonstra) e que alguns passos já foram dados é já uma vitoria, para muitos, uma certeza de que o nosso rumo tem de ser para a frente, qualquer que seja o vendaval no cume das montanhas despidas de verdura, ou as enxurradas ocasionais pelas estreitas ribeiras das nossas ilhas acidentadas.
Manuel Veiga

EDUARDO AUGUSTO CARDOSO nasceu em São Vicente (Cabo Verde) em Julho de 1955. Licenciou-se em Linguística Geral, em 1981, pela universidade de Aix_Marseille I (denominação original do diploma: maîtrise de science du langage).
Possui também o bacharelato em letras modernas e o diploma para o ensino de francês no estrangeiro, diplomas esses obtidos na Universidade de Nice em 1979 e 1978 respectivamente. Tem colaboração de natureza linguística na revista ponto e vírgula, no boletim do ensino primário Escolativa e no bissemanário Voz di Povo. Foi professor no liceu de Ludgero Lima (São Vicente, Cabo Verde) em 1982-1983. Trabalhou na direcção geral de cultura, como tecnico superior, de Janeiro de 1983 a Agosto de 1986; desde Setembro de 1986 desempenha a doçencia no Liceu de Ludgero Lima, nas disciplinas de françês e português.
Foi menbro da comissão de Cabo Verde para a análise do acordo Ortográfico da Lingua Portuguesa.

Autor: Eduardo Augusto Cardoso

Editor: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa; Instituto Cabo-Verdiano do Livro
Ano de edição: 1989

(fonte: BLx – Palácio Galveias)

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