Um dos grandes problemas da cultura crioula de Cabo Verde é saber, em termos antropológicos, o que é nitidamente africano e o que é europeu e, muito particularmente, reinol, isto é, português. Aliás, tem havido poucas tentativas deste género. Assim, pode dizer-se que, em Cabo Verde, nunca houve uma Etnografia, Etnologia ou Antropologia Cultural ou Social, cujos estudos nos pudessem fornecer ideias seguras para, numa análise do tipo sócio-antropológico, tentar separar os dois elementos fundamentais dessa cultura compósita.
…, esta obra tem antes de mais o mérito de ser pioneira. E mais: vem colocar o elemento cultural Tabanca no seu devido lugar, no contexto da cultura caboverdiana que, até aqui, era tomada ou considerada das manifestações culturais mais africanas de Cabo Verde, o que não é totalmente verdade, pois é um ritual em que a África está presente, sim, mas apenas nalguns detalhes, como, por exemplo, nos rituais dos tambores (não na forma do instrumento que é reinol), na música, nas lenga-lengas e nas danças (estas, sim, de origem nitidamente africana), pois que o seu significado profundo anda à volta de paradigmas e padrões portugueses das festas populares de Sto. António, S. João, S. Pedro e Sta. Cruz, correntes em Portugal, nas ilhas atlânticas e noutras partes do mundo em que os portugueses se foram fixando ao longo do tempo. Possivelmente uma incursão comparativa com as festas de Sta. Cruz talvez fosse de interesse imediato, dado me parecer vislumbrar na estrutura da Tabanca traços similares, ou, então, produtos de convergência cultural.
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Autor: José Maria Semedo e Maria R. Turano
Editor: Spleen-Edições – Praia
Ano de edição: 1997
(fonte: BMO – Algés)
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